quarta-feira, 22 de abril de 2020

Pandemia de coronavírus causará fome de proporções extremas

Direitos humanos  🍝

Foto/Divulgação
Mais de 30 países no mundo em desenvolvimento podem sofrer com a fome generalizada, e em 10 desses países já existem mais de 1 milhão de pessoas à beira da fome, disse David Beasley, diretor executivo do Programa Mundial de Alimentos.“Não estamos falando de pessoas que vão dormir com fome”, disse ele ao Guardian em entrevista. “Estamos falando de condições extremas, status de emergência – pessoas literalmente marchando à beira da fome.

Revista Amazônia
O mundo está enfrentando fome generalizada por causa da pandemia de coronavírus, alertou o chefe da agência de ajuda alimentar da ONU, com pouco tempo para agir antes que centenas de milhões passem fome.
Mais de 30 países no mundo em desenvolvimento podem sofrer com a fome generalizada, e em 10 desses países já existem mais de 1 milhão de pessoas à beira da fome, disse David Beasley, diretor executivo do Programa Mundial de Alimentos.
“Não estamos falando de pessoas que vão dormir com fome”, disse ele ao Guardian em entrevista. “Estamos falando de condições extremas, status de emergência – pessoas literalmente marchando à beira da fome. Se não conseguirmos comida para as pessoas, as pessoas vão morrer. ”
O que parece certo é que os frágeis sistemas de saúde de dezenas de países em desenvolvimento não serão capazes de lidar, e o desastre econômico que resulta da pandemia levará a uma enorme pressão sobre os recursos.
“Isso é realmente mais do que apenas uma pandemia – está criando uma pandemia de fome”, disse Beasley. “Esta é uma catástrofe humanitária e alimentar.”
Beasley levou sua mensagem ao conselho de segurança da ONU na terça-feira, alertando os líderes mundiais de que devem agir rapidamente em uma situação que se deteriora rapidamente. Ele pediu que eles adiantassem cerca de US $ 2 bilhões em ajuda prometida, para que eles cheguem à linha de frente o mais rápido possível.
Também são necessários outros US $ 350 milhões (£ 285 milhões) para configurar a rede de logística para levar alimentos e suprimentos médicos – incluindo equipamentos de proteção individual – para onde for necessário, incluindo pontes aéreas onde o transporte terrestre é impossível.
Mesmo antes da crise de Covid-19, Beasley apelava aos países doadores para aumentar o financiamento de ajuda alimentar aos mais pobres, porque os conflitos e os desastres naturais estavam pressionando seriamente os sistemas alimentares.
“Eu já estava dizendo que 2020 seria o pior ano desde a Segunda Guerra Mundial, com base no que prevíamos no final do ano passado”, disse ele. Além disso, no início deste ano a África Oriental foi atingida pelos piores enxames de gafanhotos em décadas, colocando em risco 70 milhões de pessoas. Mas a pandemia de Covid-19, que ninguém poderia prever, “nos levou a um território desconhecido. “, ele disse. “Agora, meu Deus, esta é uma catástrofe. Estamos analisando uma fome generalizada de proporções bíblicas. ”
De acordo com um relatório produzido pela ONU e outras organizações na quinta-feira, pelo menos 265 milhões de pessoas estão sendo levadas à beira da fome pela crise do Covid-19, o dobro do número sob ameaça antes da pandemia.
Nenhuma dessas mortes iminentes por fome é inevitável, disse Beasley. “Se conseguirmos dinheiro e mantivermos as cadeias de suprimentos abertas, poderemos evitar a fome”, disse ele. “Podemos parar com isso se agirmos agora.”
Ele disse que a situação daqui a quatro semanas é impossível de prever, enfatizando que os doadores devem agir com urgência. Ele pediu aos países que não implementem proibições de exportação ou outras restrições ao fornecimento de alimentos além-fronteiras, o que levaria a escassez.
Mas Beasley também alertou que evitar a ameaça de fome levaria meses, portanto, seria necessária assistência muito além da resposta inicial. “Nossa grande preocupação é que poderíamos começar a deixar o Covid-19 para trás [nos países desenvolvidos] em três ou quatro meses, e então o dinheiro acabará”, disse ele. “E se o dinheiro acabar, as pessoas vão morrer.”
No ano passado, o Programa Mundial de Alimentos ajudou cerca de 100 milhões de pessoas em desespero, com um orçamento de cerca de US $ 7,5 bilhões. “Eu pude ver facilmente essa necessidade [de orçamento] dobrando”, disse Beasley.
O dinheiro por si só não será suficiente, acrescentou. É difícil para os trabalhadores humanitários passar por bloqueios em todo o mundo e montar pontes aéreas quando o transporte está paralisado. “Precisamos de dinheiro e acesso – não um ou outro, ambos.”
Também é crucial garantir que as cadeias de suprimentos permaneçam abertas diante dos bloqueios e da dificuldade de levar os trabalhadores aos campos para cuidar das plantações se estiverem doentes ou incapazes de viajar com facilidade. “Se a cadeia de suprimentos quebrar, as pessoas não conseguirão comida – e se não conseguirem comida por tempo suficiente, elas morrerão”, disse Beasley.
“Estamos juntos nisto. Podemos impedir que isso se torne uma fome generalizada. Mas precisamos agir com rapidez e inteligência. ”
Fonte - Revista Amazônia  22/04/2020

sexta-feira, 13 de março de 2020

Coronavírus contrata o desemprego: é urgente agir!

Política/Economia  👀

Clemente Ganz Lúcio
Enquanto a OMS/ONU declara pandemia, aqui no Brasil o Presidente diz que a crise “não é isso tudo que a mídia diz”. Está enganado ou está tentando nos enganar. É gravíssima e poderá ficar muito pior se não forem tomadas medidas imediatas, urgentes e inteligentes.O Brasil deve realizar, além de todas as iniciativas na área de saúde para conter a propagação do vírus

Clemente Ganz Lúcio* - Portogente
O sistema produtivo está cada vez mais travado em decorrência das quarentenas que exige o tratamento para o coronavírus. Sem trabalhar a economia desacelera, o fluxo de produção para e deixa de gerar riqueza (bens e serviços) e renda (lucros, salários e impostos). Os impactos desse travamento se retroalimentam com a queda no consumo das famílias, das empresas e dos governos. Sem produção de insumos a produção industrial mundialmente integrada entram em colapso.
Na medida que o vírus se espalha em mais da metade dos países, o travamento vai se ampliando, sem data para acabar. O destravamento é complexo e levará tempo. Os impactos sobre os empregos e a renda dos trabalhadores serão severos, além dos riscos sobre a saúde e a vida.
Os Estados e governos nacionais e os organismos multilaterais devem, além dos máximos cuidados essenciais à saúde, tomar medidas com a máxima urgência para proteger os empregos, a renda das pessoas e a vitalidade do sistema produtivo e financeiro.
Iniciativas como a da União Europeia que decidiu ativar um Fundo de 25 bilhões de euros, sendo 7,5 bilhões liberados imediatamente, para socorrer os problemas de liquidez das empresas (dinheiro para pagar compromissos, inclusive salários), para apoiar o sistema de saúde e para proteger as ocupações dos trabalhadores. Os governos deverão promover um relaxamento das regras fiscais, com acordos políticos robustos, ou seja, é hora de os governos gastarem bem, além de criar regras para que as pessoas e empresas tenham maior prazo para saldar dívidas ou fazer desonerações por prazo determinado.
Enquanto a OMS/ONU declara pandemia, aqui no Brasil o Presidente diz que a crise “não é isso tudo que a mídia diz”. Está enganado ou está tentando nos enganar. É gravíssima e poderá ficar muito pior se não forem tomadas medidas imediatas, urgentes e inteligentes.
O Brasil deve realizar, além de todas as iniciativas na área de saúde para conter a propagação do vírus, três ordens de medidas que devem se simultâneas e combinadas: a) retomar imediatamente investimentos públicos; b) garantir a renda das pessoas (salários e transferências); c) garantir liquidez para empresas e pessoas (capital de giro, alongamento dos prazos para pagar dívidas, desoneração temporária).
Medidas para cada uma das três frentes, todas com impactos para preservar empregos e renda:

1. Investimento público – recurso usado com inteligência estratégica para realizar obras relevantes para a infraestrutura econômica e social, gerando empregos:• Retomada imediata das milhares de obras paradas, investimentos em infraestrutura econômica e social.
• Reverter o desmonte do BNDES e recolocá-lo como banco voltado para o desenvolvimento produtivo, priorizando empréstimos para projetos de investimento em execução.
• Implantar imediatamente os novos projetos de investimentos prontos para execução, em espacial na construção habitacional, que devem ser ampliados.
• Criar força tarefa no Congresso para dar uma solução definitiva aos acordos de leniência, liberando as empresas para retomarem atividades produtivas, os empregos e a capacidade da engenharia nacional estruturar competência para o desenvolvimento do país.
• Recolocar a centralidade das atividades produtivas das estatais, em especial dos investimentos estruturantes de cadeias produtivas em infraestrutura econômica e dos fornecedores, em especial, de engenharia.
• Reestruturar os investimentos produtivos públicos e privados para o fornecimento de insumos para a produção de alimentos.
2. Liquidez, a depender dos impactos sistêmicos na vida das pessoas e empresas:
• Liberar recursos com taxas de juros especiais para a liquidez das empresas, vinculado à preservação dos empregos.
• Criar medidas para suspenção temporária da cobrança de taxas de serviços públicos.
• Criar mecanismos para a reorganização das dívidas das pessoas e famílias, incluindo financiamento habitacional.

3. Preservar empregos e renda:• Liberar recursos para as cidades e estados realizarem atividades geradoras de empregos imediatamente para as múltiplas atividades, tais como: inúmeros tipos de reparos urbanos; reforma e construção de equipamentos e de instalações (posto de saúde, escola, segurança, etc.), limpeza urbana; cuidados ambientais; cuidados com a saúde e educação; cuidados assistenciais para crianças, idosos e doentes, entre outras inciativas.
• Ampliar imediatamente o seguro-desemprego para 7 parcelas e analisar a sua extensão em função dos impactos.
• Liberar a fila do INSS garantindo aos aposentados o acesso aos benefícios para quase 2 milhões de solicitações.
• Recolar os beneficiários excluídos do bolsa-família e incluir os novos requerentes que são hoje cerca de 3,5 milhões de pessoas;
• Aplicar um abono salarial para o salário mínimo e indicar a retomada da sua valorização.
• Revitalizar o PPA – Programa de Aquisição de Alimentos e o PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar.
• Recolocar ativo o PPE – Programa de Proteção dos Empregos.
• Incentivar acordos sindicais que preservem os empregos, inclusive com o uso do PPE.
• Facilitar o acesso ao afastamento saúde para os assalariados e criar um abono saúde emergencial para os trabalhadores não assalariados afetados pelo vírus.

Outras medidas:
• Petrobrás ampliar o refino segundo sua capacidade produtiva instalada, diminuindo importação.
• Rever o preço do botijão de gás para R$ 40,00 ou menos.
• Revisão imediata da Lei do Teto de Gasto, liberando investimentos e gastos sociais orientandos para o enfretamento da crise.
• Suspender a tramitação de projetos que criam restrições fiscais e limitam a atuação do Estado.
Essas, entre outras medidas que poderão ser criadas, exigem ação tempestiva. O Congresso poderia criar um Comitê, incluindo as organizações dos empresários e dos trabalhadores, para monitorar e debater iniciativas. Não cabe dúvida: é urgente atuar pensando em todos os brasileiros e brasileiras, protegendo especialmente os mais fracos, pessoas e empresas.
* Sociólogo, técnico Dieese e consultor.
Fonte Portogente  13/03/2020